A doença celíaca (sprue celíaco, sprue não tropical, enteropatia sensível ao glúten) é uma afecção que atinge o tubo digestivo, mais precisamente o intestino delgado, interferindo na absorção dos nutrientes.Pessoas com a doença têm intolerância a uma proteína chamada glúten, encontrado no trigo, centeio, cevada e possivelmente aveia.
Depois de ingerido ,o glúten entra em contato com a superfície do intestino delgado, onde as células do sistema imunológico o identifica e provoca uma inflamação, danificando esta superfície. Especificamente, são as vilosidades (projeções que aumentam a área absortiva) que são perdidas.Normalmente os nutrientes dos alimentos são absorvidos através destas vilosidades e transportados a corrente sanguínea.
Sem este mecanismo de absorção (vilosidades), a pessoa pode torna-se desnutrida - independente da quantidade de alimento ingerida.
A doença celíaca é a doença genética mais comum na Europa. Na Itália cerca de 1 em 250 pessoas e na Irlanda 1 para cada 300 pessoas tem a doença. É raramente diagnosticada em africanos, chineses e no povo japonês.
No Brasil, estima-se que cerca de 1% da população seja portador de DC.
Visto que é o próprio sistema imunológico que causa a lesão no intestino, a doença celíaca é considerada uma doença autoimune. Além disto, é classificada como doença de má absorção devido ao quadro clínico que a acompanha.
Doença celíaca é uma doença genética, ou seja, existe correlação familiar.
Às vezes a doença é desencadeada ou aparece pela primeira vez após cirurgia, gravidez, nascimento, infecção viral ou stress emocional severo.
A doença celíaca manifesta-se nas pessoas de maneira diferente. Alguns desenvolvem na infância, outros somente na idade adulta. Um fator que parece determinar quando e como os sintomas irão aparecer é o tempo de amamentação.Quanto maior o tempo de amamentação, mais tarde os sintomas irão aparecer e de forma mais diferente (atípica).Outros fatores seriam a idade com que o glúten é inicialmente ingerido e sua quantidade.
A forma de apresentação pode ser a mais variada possível, ou seja, os sintomas podem ou não se manifestar somente no sistema digestório.Por exemplo, uma pessoa pode apresentar diarréia, dor abdominal, enquanto outra pode ter irritabilidade ou depressão. De fato, irritabilidade é um dos sintomas mais comum na infância.
Os sintomas da doença celíaca podem ser:
Distenção abdominal e dor recorrente.
Diarréia crônica.
Perda de peso.
Fezes claras, com odor fétido.
Anemia crônica de causa desconhecida.
Flatulência.
Dores ósseas.
Alteração comportamento.
Câimbras musculares.
Fadiga, cansaço.
Retardo do crescimento.
Dor articular.
Aftas orais.
Alteração período menstrual.
Depressão, irritabilidade.
Anemia, retardo no crescimento e perda ponderal podem ser sinais de desnutrição em crianças, o que precisa ser logo corrigido para poderem ter um desenvolvimento normal.
Algumas pessoas com doença celíaca não apresentam sintomas.A parte não afetada de seu intestino é capaz de absorver nutrientes de forma suficiente.
Entretanto pessoas que não apresentam sintomas ainda apresentam riscos de desenvolver as complicações da doença celíaca.
O diagnóstico da DC pode ser feito através de exame de sangue (sorologia) especifica associada a estudo histológico da mucosa duodenal através de biópsia realizada pela endoscopia digestiva alta.
A única forma de tratar a doença celíaca é seguir rigorosamente uma dieta sem glúten, ou seja, evitar todos os alimentos que contenham glúten.Para muitas pessoas, este tipo de dieta faz com que haja a melhora dos sintomas, cicatrize as lesões intestinais e previna futuras complicações. A melhora dos sintomas acontece em poucos dias, com o retorno das pregas intestinais - vilosidades - em 3 a 6 meses (pode demorar até 2 anos em pessoas mais velhas).
A dieta sem glúten deverá ser mantida pelo resto da vida.Ingerir o glúten, não importando tamanho ou quantidade, poderá afetar o intestino. E isto acontece para qualquer um que tenha a doença, independente da presença ou não dos sintomas.
Uma pequena percentagem dos casos não apresenta melhora com a dieta.Estas pessoas geralmente têm lesões no intestino tão intensas que não melhoram mesmo com a suspensão do glúten.Devido à extensão destas lesões, o intestino não consegue absorver nutrientes adequadamente, sendo necessário o uso de suplementação nutricional parenteral (através da veia).
Fazer dieta sem glúten significa evitar todos os alimentos que contenha trigo,centeio, cevada e aveia.Apesar destas restrições, celíacos podem comer uma dieta bem balanceada com uma variedade de alimentos, incluindo pão e massas.Por exemplo no lugar da farinha de trigo pode-se usar batata, arroz ou soja.
Se todos portadores de doença celíaca devem evitar aveia ainda é controverso, pois existem pessoas que conseguem comê-la sem apresentar reação.Os cientistas estão estudando em que situações a aveia será liberada no cardápio dos doentes, entretanto até se ter a posição definitiva é recomendado que todos as pessoas sensíveis ao glúten a exclua de sua dieta.
Carne vermelha, peixe,. Arroz, fruta e vegetais não contém glúten, portanto pessoas com a doença celíaca podem comê-los a vontade.
A aderência à dieta sem glúten pode ser complicada.Requerem uma nova maneira de comer, e isto para toda vida.Os celíacos têm que ser extremamente cuidadosos sobre o que comprar para o almoço na escola ou no trabalho, o que consumir nas festas, ou o que se servir da geladeira.
Comer fora de casa pode ser desafiador, pois os celíacos têm que decifrar o cardápio, muitas vezes auxiliado pelo garçom e pelo cozinheiro. Fontes escondidas de glúten incluem aditivos, conservantes e estabilizadores encontrados em alimentos processados e medicamentos.Caso os ingredientes não estejam identificados, uma consulta ao fabricante é recomendada.
Uma nutricionista ou qualquer profissional especializado em alimentação e nutrição pode orientar as pessoas sobre sua dieta. Além de grupos de celíacos (ACELBRA) onde a maneira de conviver com a doença, dietas e orientações para as famílias são bem exploradas.
Pessoas com doença celíaca tendem a ter outras patologias autoimune, que incluem:
Dermatite herpetiforme.
Doenças da tireóide.
Lúpus eritematoso sistêmico.
Diabetes tipo 1.
Doenças do fígado.
Doenças do colágeno.
Síndrome de Sjögren.
A ligação destas alterações com a doença celíaca pode ser genética.
Dermatite herpetiforme (DH) é uma doença de pele severa que se apresenta com lesões bolhosas elevadas , que coçam causadas pela intolerância ao glúten.
DH é associada a doença celíaca pois ambas são alterações autoimunes causadas pela intolerância ao glúten,mas são entidades separadas. A lesão de pele, vermelha, frequentemente atinge os cotovelos, joelhos e a região lombar (acima das nádegas).
Embora os portadores da dermatite herpetiforme não apresentem sintomas digestivos,frequentemente apresentam lesões nas vilosidades intestinais semelhantes aos celíacos.
A DH é diagnosticada pela retirada de fragmento de pele (biópsia) próxima a área afetada, pesquisando a presença de anticorpos da classe IgA. È tratada com dieta sem glúten e medicamentos para controle da lesão, como a dapsone e a sulfapiridina.O tratamento medicamentoso poderá durar anos.
Fonte: Federação Brasileira de Gastroenterologia