GASTROENTEROLOGIA COLOPROCTOLOGIA

Intolerância à Lactose

A lactose é o principal carboidrato (açúcar) encontrado no leite e seus derivados. Esses produtos são amplamente utilizados em nosso meio, estando presentes em quase toda refeição.

A lactose, no meio médico, faz parte de uma lista de alimentos conhecida como FODMAP, que inclui alimentos facilmente fermentáveis que geram sintomas gastrointestinais.

Para sua efetiva utilização pelo organismo, esse açúcar deve ser digerido pela enzima lactase, encontrada no intestino delgado dos humanos. A quebra da lactose pela lactase libera monossacarídeos (glicose e galactose) que serão absorvidos e utilizados como fonte de energia.

Como ocorre a Intolerância à Lactose?

Para que não ocorra má digestão de lactose, é necessário que haja pelo menos 50% de atividade de lactase no intestino delgado. A queda da atividade enzimática da lactase é chamada de hipolactasia primária. A nossa capacidade de digestão e absorção da lactose cai com a idade e várias pessoas chegam a adquirir um grau de deficiência ao longo dos anos, podendo ocasionar sintomas incomodativos. Essa queda é determinada geneticamente, sendo observada, por exemplo, em até 90% de negros africanos e em torno de 10% entre brancos do norte da Europa. Especula-se que devido às questões raciais, no Brasil, até 50% da população possa vir a desenvolver a má absorção de lactose. Quando há sintomas gastrointestinais associados à má digestão de lactose, dá-se o nome de "intolerância à lactose".

Há exames que diagnosticam a Intolerância à Lactose?

A má digestão da lactose pode ser diagnosticada por um exame chamado de "teste de hidrogênio expirado". Ele tem como vantagem o diagnóstico do nível de má absorção e sua correlação com os sintomas apresentados pelo paciente após a ingestão da lactose, ou seja, é capaz de diferenciar má absorção e intolerância à lactose. Essa diferenciação se baseia na percepção individual dos sintomas (náuseas e/ou vômitos, eructação, dor e distensão abdominal, borborigmo, flatulência e diarreia). Quando há sintomas associados, o diagnóstico é de intolerância à lactose.

Outro teste, realizado por meio de uma amostra de sangue, mede de forma indireta a má absorção através da dosagem da glicose no sangue após ingestão de lactose, sem a correlação com sintomas clínicos, limitando o diagnóstico à má absorção e não de intolerância à lactose.

Muitos pacientes com critérios clínicos de síndrome do intestino irritável, dispepsia funcional, diarreia crônica e eructação gástrica excessiva apresentam intolerância à lactose associada.

O aparecimento e a gravidade dos sintomas de intolerância à lactose também estão diretamente relacionados com a microbiota intestinal devido à capacidade das bactérias em fermentar a lactose e produzir metabólitos responsáveis pelo aparecimento dos sintomas. A microbiota intestinal produz metabólitos que podem reduzir o pH do ambiente intestinal e ocasionar diarreia e outros sintomas como aumento de gases que são responsáveis pela eructação, pelo aumento da flatulência, distensão e desconforto abdominal, manifestações características da intolerância à lactose.

Supercrescimento bacteriano no intestino delgado (aumento das bactérias presentes na microbiota intestinal) ou disbiose (alteração da quantidade e/ou tipo de bactérias presentes no intestino) também podem causar intolerância à lactose sem que haja queda dos níveis de lactase no intestino (hipolactasia secundária), através de competição pela lactose. Outras doenças orgânicas podem apresentar intolerância à lactose por hipolactasia secundária, como Doença Celíaca, Doença de Crohn, Doença de Whipple, dentre outras.

Qual o tratamento?

O tratamento clássico para intolerância à lactose é a retirada de produtos lácteos da alimentação para remissão dos sintomas. Porém, a restrição desses produtos da dieta por tempo prolongado pode favorecer a ocorrência de deficiências nutricionais de cálcio, fósforo e vitaminas. Como opção, a adoção do consumo de produtos fermentados à base do leite tem se mostrado eficaz na redução da intolerância. As bebidas lácteas fermentadas contém enzimas que contribuem para digestão da lactose. Suplementos alimentares à base da enzima lactase podem ser utilizadas juntamente com a ingestão de produtos contendo lactose e minimizar a ocorrência de sintomas. O diagnóstico prévio é sempre desejável, seguido de orientações dietéticas e uso destes suplementos. Profissionais habilitados devem ser consultados. Sobre a dieta para pessoas que tem dificuldade em digerir a lactose ela deve ser sempre individualizada. Sabemos que grande parte dos pacientes consegue suportar até 12 gramas de lactose por dia (equivalente a um copo de leite) sem grandes transtornos.

Abaixo estão listados os principais alimentos que contém lactose:

Grupo1 – Maior teor de lactose (5% a 50%):
• Leite de vaca, leite em pó, leite condensado, sorvetes a base de leite e queijo ricota.

Grupo 2 – Teor intermediário de lactose (2% a 3%):
• Iogurte desnatado ou integral e coalhada caseira.

Grupo 3 – Menor teor de lactose (0,01% a 2%):
• Queijo minas, mussarela, prato, parmesão, catupiri, Yakult®, manteiga e creme de leite.

Em geral, produtos derivados de leite são mais bem tolerados devido ao menor teor de lactose.

Lembre-se, você não deve suprimir a ingestão destes alimentos. Evite os que apresentam maior teor de lactose e experimente qual quantidade desses alimentos você pode consumir sem que ocorram desconfortos.

Algumas doenças podem se manifestar com intolerância à lactose e apenas seu médico pode diagnosticá-las. Não esqueça de sempre consultar ajuda especializada e qualquer novo sintoma exige uma reavaliação.

Fonte: Federação Brasileira de Gastroenterologia